Lésbicas como vanguarda no ativismo autônomo de aborto na Latinoamérica: Entrevista a Osa Flaca, lesbofeminista aborteira do Chile

Memória Lésbica
25 min readMar 24, 2021
Osa Flaca, médica lésbica feminista indígena aborteira integrante de “Con las Amigas y en la Casa” rede de acompanhantes lesbofeministas de aborto que em um único ano realizou 5 mil abortos no Chile, contra 600 realizados pelo Estado chileno.

A Coletiva Memória Lésbica, em função do mês de março, voltando a buscar centrar nas pautas sexuadas das mulheres frente ao sequestro dos espaços feministas de luta por pautas genéricas, e também devido à recente legalização do aborto na Argentina, entrevistou a Osa Flaca, aborteira lesbofeminista chilena, integrante do grupo musical “Torta Golosa”,indígena mapuche, médica e anti-especista, que atua na organização “Con las Amigas y en la Casa” onde fazem acompanhamento de aborto para mulheres. Em um único ano esta organização chegou a realizar 5 mil abortos seguros clandestinos, contra 600 realizados pelo Estado chileno.

Estamos trazendo a vocês um pouco mais sobre o trabalho de lesbofeministas na questão do aborto em nossos territórios abya-yálicos, e como a perspectiva lesbofeminista vem avançando a luta pelo aborto neles, como uma ação direta orientada por éticas lésbicas e que promove consciência entre mulheres a respeito do regime heterossexual e a apropriação dos corpos das mulheres pela classe masculina. Osa atua em uma frente chilena mais autônoma e composta por sapatonas — muitas se tornaram lésbicas depois do processo abortivo devido a uma reflexão sobre heterossexualidade compulsoria. O mote nos movimentos lésbicos por lá é “Lesbiandade é o melhor contraceptivo”, chegando a carregar faixas com esses dizeres em marchas do #8M.

Desejamos que esta troca entre ativistas possa inspirar uma atuação mais radical e trazer um pouco do vislumbre de estratégias dentro da prática política do aborto autônomo, e também fazer jus à memória lésbica, onde reconhecemos o protagonismo histórico das lésbicas nos ativismos mais cruciais a realidade de mulheres enquanto classe e combatendo apagamento e tegiversações lesboodiosas a respeito do movimento de lésbicas.

M.L.: A primeira pergunta que temos pra fazer é se você pode se apresentar.

Osa: Bom, sou Osa, sou lésbica feminista, sou Mapuche, vegana antiespecista, sou médica e acompanho abortos em uma rede que se chama “Con las amigas y en la casa” (com as amigas e em casa) aqui no território que chamaram Chile. Tenho 39 anos e faço ativismo aborteiro há 10 anos.

M.L.: E você pode nos contar um pouco sobre essa organização na qual você atua com a pauta do aborto? A história da organização e tudo mais?

Osa: Sim, claro. A verdade é que “Con las amigas y en la casa” nasce como uma necessidade que tínhamos algumas ativistas — que já estávamos há um tempo entregando informação para acompanhar abortos, principalmente através de linhas telefônicas -, e queríamos dar um passo além e encontrar-nos com as mulheres diretamente, não somente entregar a informação, mas também acompanhar o processo de aborto, antes, durante e depois. Além disso, fazê-lo de uma maneira crítica à heterossexualidade compulsória, ao coito heterossexual — que era algo que não podíamos fazer nas outras organizações que participávamos antes, porque eram organizações que se limitavam a entregar informação sobre o procedimento abortivo mas não faziam o acompanhamento nem a reflexão com as mulheres. Então, quando começamos, éramos várias que antes participávamos dessas outras linhas telefônicas e nossa intenção era não acompanhar somente as mulheres mas que fossem dos círculos feministas — porque no Chile, nesse tempo (estou falando de agosto de 2016) o aborto estava ainda proibido em todas as situações, então para que uma mulher pudesse acessar um aborto com medicamentos de maneira segura, ela tinha que ou ter ou muito dinheiro, ou que ser próxima de alguma organização feminista, e haviam muitas mulheres que ficavam de fora da possibilidade de acessar um aborto seguro. Outra área que nos interessava muito era participar da formação de novas acompanhantes de aborto que pudessem também colocar tônus na crítica à heterossexualidade e ao coito heterossexual, que é algo que nos interessa, é o modo que escolhemos como acompanhar os abortos. E bom, a rede nasceu em Santiago, na capital, mas durante esses anos ela foi crescendo e atualmente há dezesseis coletivas que são parte da rede “Con las amigas y en la casa” e estamos em quase todas as regiões do Chile.

M.L: E como é o contexto da luta pelo aborto no Chile?

Osa: Bom, no ano de 2017, em setembro, foi aprovada uma lei de aborto em três circunstâncias aqui no Chile. É um projeto de lei que não partiu do movimento social, ele se gerou entre quatro paredes, era mais um compromisso da administração desse tempo que era da Michelle Bachelet (ex-presidenta do Chile). Ele propõe que o aborto não seja penalizado em três situações que são risco de vida da mulher, má formação incompatível com a vida, e estupro até a 12a semana — e o resto segue sendo penalizado. Desde que saiu a lei foram feitos aproximadamente 600 abortos de maneira legal, em todo o Chile, e se pensava que seriam feitos aproximadamente 4 mil — foram somente 600. De fato, nós da rede “Con las amigas y en la casa” no primeiro ano fizemos aproximadamente 5 mil abortos, então claramente a lei não está servindo para que as mulheres acessem o aborto seguro. Além disso há muita desconfiança, primeiro porque as três circunstâncias são muito limitadas — a maioria das mulheres fica fora das três circunstâncias, e inclusive as mulheres que estão dentro dela têm muita dificuldade para acessar um aborto seguro e legal aqui no Chile. Então o contexto da luta vai um pouco no sentido do que aconteceu na Argentina, poder ampliar o aborto legal para que pelo menos seja voluntário até a 14a semana, que é o mínimo de dignidade que se espera.

M.L.: Sim. No Brasil não há linhas de aborto (poderíamos traduzir em português para “Disque-Aborto”), então, gostaríamos que você nos explicasse um pouquinho como funcionam as linhas. Eu conheço as linhas, mas o nosso público talvez precise de uma contextualização.

Osa: Sim. Em Chile temos a linha de aborto livre, que ainda existe, e surgiu de um grupo de mulheres lésbicas principalmente — ou seja, as linhas telefônicas aqui em Chile e num geral, em todas as estratégias de primeira linha em acompanhamento de aborto, são levadas por lésbicas. Isso é algo que a nós sempre nos interessa deixar explícito: não têm sido as mulheres heterossexuais, nem muito menos seus companheiros homens, que têm-se preocupado desse tema que as atinge diretamente, mas sim as lésbicas que temos colocado a corpa, arricando-nos em projetos que são muitas vezes ilegais — inclusive já sofremos perseguição legal pelo trabalho que fazemos com o aborto. E isso não é assim só no Chile, também em outros países, na Colômbia por exemplo, “Las parceras” são uma linha telefônica e de acompanhantes que se definem como lésbicas, e outras linhas, embora não se definam como lesbofeministas, de toda forma estão em sua maioria composta por mulheres lésbicas. A estratégia das linhas telefônicas é ter um número telefônico que seja de acesso livre, ao qual as mulheres podem ligar e receber informação sobre como realizar um aborto seguro com pílulas e em casa. Essa é basicamente a estratégia; algumas linhas têm além disso acompanhamento, ou seja, além de oferecerem a informação e também contatam a mulher com uma acompanhante que vai fazer um acompanhamento mais “personalizado” durante o processo. Outras só oferecem a informação, porque depende do contexto legal de cada país, em alguns países não se pode fazer o acompanhamento presencial tão direto por questões legais, e em outros sim, pode. Aqui no Chile quando eu fiz parte da linha de aborto livre, não se podia falar de como conseguir os medicamentos, não se podia entregar informações à mulher sobre como acessar um aborto seguro com medicamentos porque tudo isso era muito ilegal, a linha estava grampeada (pela polícia), então só entregávamos informação sobre como manipular as pílulas de maneira correta (nota nossa: embora o aborto seja proibido, o direito a informação sobre saúde não o é, e nisso principalmente se baseiam as linhas de aborto que as vezes se chamam “Linhas Direito a Informação”) mas não tínhamos como fazer com que acessassem as pílulas de maneira segura, por exemplo. E assim funcionam as linhas.

M.L.: O que eu sei da história das linhas é que começaram com o movimento “Women on waves” (recomendamos o documentário “Vessel” sobre a história dessa organização) que vieram à Abya-Yala (latinoamérica e Caribe) e fizeram uma oficina creio que no Equador…

Osa: No Equador, sim. E depois umas companheiras chilenas foram ao Equador e aprenderam o modelo e logo depois as women [on waves] vieram aqui e também deram esse pontapé inicial para a linha no Chile. é uma estratégia que vem desde… é, não é desse território, estritamente — e em algum momento já deixou de ser funcional também. A estratégia de acompanhantes, que é a estratégia das socorristas na Argentina, a nossa de “Con las amigas y en casa”, das “Las parceras” em Colombia, das “Comadres” no Equador, são estratégias que sim têm uma raíz mais territorial. São estratégias que nasceram aqui, no território, não vieram de fora a nos ensinar como tínhamos que fazer.

M.L: Sim, é uma coisa muito latino-americana. E o que eu sabia era que havia uma linha em Peru, mas pelo que você conta parece que (a linha do) Chile veio antes da Argentina, por exemplo, né?

Osa: Não sei, na Argentina também.. é que eu não tenho tão claras as datas, mas sei que em 2009 começou a linha no Chile, mas a linha que tinham na Argentina não estou segura em que ano começou, mas foi tudo bem parecido (junto).

M.L.: Sim, e o que me chama atenção é que sempre as linhas estão a cargo das lésbicas, essa história a gente tem que contar.

O: Sim, na Argentina também as lésbicas e feministas pelo direito à informação fizeram um manual e esse manual serviu de base para o manual que fizemos aqui no Chile que é também de “lésbicas e feministas pelo direito à informação’ — nos chamamos assim. De fato eu me integrei à linha de aborto aqui no Chile quando a linha de aborto se nomeou como uma linha lésbica, nesse momento me interessou entrar. Mas sim, me parece super necessário revelar essa história, porque não é casual que as lésbicas estejamos na linha de frente do acompanhamento de abortos.

M.L.: Sim, mas olha só, no México também conheci umas acompanhantes em San Cristóbal e também são lésbicas. Penso que talvez tenha a ver com essa relação com a sabotagem à heterossexualidade, porque o que está muito na moda por exemplo são essas formações de doulas, fazer partos naturais, e o que me parece é que o que o Planeta realmente necessita e as mulheres mais necessitam é que hajam mulheres que ajudem a abortar e não a parir, né? E para você, qual é o porquê de as lésbicas serem essa vanguarda abortista?

Osa: Penso primeiro que as lésbicas, ao não estarem disponíveis para os homens, no fundo nós não temos nossa energia gasta em agradar a um homem, em arrumar a vida de um homem, em ensinar a um homem sobre feminismo, como nossa energia é gasta para nós, entre nós, nesse sentido é meio que natural de algum modo que queiramos que a outra mulher também se libere.

Penso muito isso desde o amor entre mulheres, porque o acompanhamento que se faz é um acompanhamento que parte do amor porque você se encontra com uma mulher que não conhece, uma mulher com quem não têm nenhum vínculo político nem nada, com uma mulher que de repente nem sequer te cai bem, mas para você é super importante, você aprende a confiar nessa mulher e essa mulher também confia em você. Isso está proibido no patriarcado: que as mulheres confiemos umas nas outras e que nos apoiemos, que tenhamos vínculos que estejam fora dos vínculos heterossexuais.

E uma mulher confiando em outra mulher, desconhecida, para um processo tão complexo — ou seja, o aborto em si mesmo não é complexo, mas abortar em territórios como os nossos sim é complexo. Então que uma mulher confie em outra que não conhece só porque é uma mulher, já é super sabotador do patriarcado. Por outro lado penso que há uma resistência e um desacato muito parecido entre o que praticamos as lésbicas, que não queremos ser heterossexuais, e o que praticam as mulheres que abortam, que não querem ser mães — porque, finalmente, o sistema nos quer heterossexuais e mães. Então as lésbicas desacatamos a heterossexualidade e uma mulher que aborta sabota essa maternidade compulsória, então nisso nos parecemos, porque estamos fugindo das obrigatoriedades da heterossexualidade, e creio que isso faz a gente se encontrar.

M.L.: Sim, eu vi um stencil que fazia paródia daquela palavra de ordem gritada em marchas (em países de língua espanhola): “educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar e aborto legal para não morrer”, sabe? Este stencil pixava uma parede dizendo: “lesbianismo para não abortar — aborto legal para não parir”. Conversa muito com isso que estamos falando, pois me parece que você está trazendo um olhar muito lésbico. Eu não havia pensado muito por esse lado, pra mim o aborto parecia uma pauta muito heterossexual. Pensava: qual o interesse das lésbicas no aborto? Claro que nós podemos sofrer um estupro e tudo isso, e que podemos haver passado pela heterossexualidade compulsória, mas eu via de outra maneira. E também me chamava a atenção o fato de lésbicas estarem se pondo em risco para ajudar mulheres héteros a abortar, né? Então não sei, o que você pensa sobre isso? Acho que você conhece um pouco as ideias do grupo chileno Feministas Lúcidas sobre a diferença sexual, dessa questão que as feministas italianas perguntavam: para o prazer de quem as mulheres abortam? (“Para o prazer de quem abortas?”) Então, como você pensa o tema da sexualidade feminina mais além do coito reprodutivista e esse mito do orgasmo vaginal, que também foi um constructo muito funcional ao patriarcado, que veio para substituir o mito do instinto materno — como dizia uma feminista radical, a Ti Grace Atkinson. Então, o que você pensa disso?

Osa: Então, é algo que discutimos sempre, me lembrei agora com esse pixo que você se referiu que nós aqui temos um grito que é:

“sexo lésbico para não abortar, aborto legal para não parir e lesbofeminismo para sobreviver”.

M.L.: Que máximo, adorei!

Osa: Sim! Nós gritamos ele sozinhas, porque as feministas heterossexuais não o gritam.

M.L.: Imagino que se incomodem…

Osa: Sim. Mas, bom, essa discussão que você propõe é como a proposta e a estratégia que nós temos quando nos propomos que o nosso acompanhamento é lesbofeminista, e isso quer dizer que nós frisamos muito o questionamento à heterossexualidade. Eu quando leio às feministas da diferença falar criticamente sobre o aborto, sobre as campanhas pelo aborto, entendo perfeitamente porque se estão analisando modelos de entrega de informação e acompanhamento de aborto que são heterossexuais, que são também muito médicos, ou seja, é tipo:

…acompanhar a mulher no aborto e que depois ela se vá com seu anticonceptivo, pra poder seguir sendo funcional à heterossexualidade, pra que o homem siga ejaculando sem preocupar-se com nada.

E em contrapartida, essa não é a lógica que nós utilizamos na nossa estratégia de acompanhamento, que é super crítica.

De fato, há pouco recebemos muito ódio porque nós explicitamos que nosso acompanhamento é feito desde uma ótica lesbofeminista e isso quer dizer que é um acompanhamento entre mulheres, sem homens e onde falamos sobre porque estarmos grávidas, porque um homem ejaculou dentro de nós sem nossa vontade, sem que isso tenha a ver com nosso prazer, e isso são coisas que pontuamos; nós fazemos oficinas com as mulheres que acompanhamos e nessas oficinas, além de entregar informação sobre como usar a medicação, falamos sobre porque estamos nessa situação, pelo prazer de quem estamos nessa situação de querer abortar e o que vamos fazer com nosso corpo, com nosso prazer daqui pra frente. Falamos de sexo lésbico, falamos da fuga lésbica, que é a possibilidade de fugirmos da heterossexualidade. E bom, não apontamos também o anticonceptivo como a única solução para não continuar engravidando seguindo a disposição basicamente do homem.

M.L.: Sim, é que o aborto pode ser muito reformista, é uma coisa assim como esse heterofeminismo de direitos reprodutivos que naturaliza a heterossexualidade, propõe que a liberação feminina é hormonizar-se com anticonceptivos e abortar e depois voltar a transar com vários caras. E como isso que li da T. Grace Atinkson do orgasmo vaginal, que tem a ver com a instituição da maternidade, o mito do instinto materno, é que sempre a mulher pode engravidar com esse sexo, mesmo que haja o aborto. Então penso que legalizar o aborto não é como uma perspectiva muito revolucionária porque as pessoas que querem ter filhos tem toda essa construção do desejo de filhos, toda essa romantização, vai seguir parindo para o sistema. Então como fazer do aborto uma estratégia radical de verdade?

Osa: sim, eu acredito que os grupos de acompanhamento têm que seguir existindo independente da lei justamente por isso, porque uma lei nunca vai ser revolucionária, é uma lei! E está num contexto de estado, de governo, que é super patriarcal, não se podem pedir respostas feministas a esse sistema. Basicamente a existência de leis tem a ver com a dignidade mínima e coisas concretas, para algumas mulheres em particular que não vão acessar as redes de acompanhamento — porque nunca as redes de acompanhamento chegarão em todas as mulheres, para que não morram por aborto mal feito, ou seja, coisa super concreta que é necessário garantir. Mas é sabido, pelo menos nós sabemos, que

não está aí a revolução, porque as mulheres não escapamos da heterossexualidade com aborto legal, por mais semanas que nos dêem, e mesmo que fosse completamente despenalizado, de toda forma, se persiste a ótica acrítica à heterossexualidade e ao coito reprodutivista, as mulheres seguirão no mesmo lugar. E a resposta obviamente não virá do estado nem de nenhum governo, tem que vir das lésbicas, ou seja, eu confio somente nas lésbicas para isso.

M.L.: Claro. E fizeram 5 mil abortos em um ano, é isso? Isso é incrível, imagina, para mim é muito revolucionário que 5 mil mulheres não tenham procriado para o patriarcado e caído na escravização que a maternidade representa numa sociedade patriarcal, as fazendo relacionadas obrigatoriamente ao genitor de suas crianças e colocando em risco a si e as crianças (no Brasil asinalamos a Lei de Alienação Parental por exemplo que favorece pais abusadores e agressores uma das formas do Estado forçar essa relação heterossexual), e também todo o planeta que se beneficia disso, as espécies, ameaçadas por nossa super-população humana, os animais poupados da indústria da carne que esses novos humanos urbanos iriam crescer consumindo, e produzindo lixo no planeta, mas principalmente: quantas crianças foram salvas? Penso que muito do maltrato às crianças têm a ver com isso, porque as pessoas nem sabem o que estão fazendo quando têm filhos, não sustentam esse desejo depois de tê-los e muitas são incapazes de cuidar das crianças adequadamente. Então sim, é um trabalho muito importante.

Osa: Sim. Também a ótica heterossexual sobre os abortos é bem assistencialista e dramática. É como se só fosse a última opção da mulher o aborto, que decidem abortar depois de muitas outras considerações, e isso não é assim, as mulheres decidem abortar como primeira opção e também por amor, justamente para não ter uma criança maltratada, que virá a um mundo de merda. Ou seja, nós tentamos dar a volta nessa lógica e falar do desejo de abortar, de que as mulheres sim sentem esse desejo, que fazem o teste de gravidez e logo já decidem abortar, nesse momento, em seguida, como primeira opção. Não é como se só se pudesse chegar aí depois de pensar em outras possibilidades, como conseguir dinheiro, etc… Não, abortar! Agora! Inclusive antes de engravidar, de só imaginar-se grávida já decidirem abortar. E isso é muito mal visto, esse desejo de abortar, e penso também no desejo lésbico, é algo que não pode ser dito, como se fosse ofensivo. Penso que aí também nos encontramos as lésbicas com as mulheres que abortam: nesse desejo mal visto pela heterossexualidade, o desejo lésbico e o desejo que têm as mulheres de abortar como primeira opção.

M.L: Essa palavra de ordem que mencionei também me agrada porque sai daquela perspectiva de vítima: “educação sexual para decidir, contraceptivos para não abortar e aborto legal para não morrer” (palavras de ordem gritadas em marchas latinoamericanas hispano-falantes).

Osa: Sim, odeio esse grito.

M.L.: É sobre aquela coisa da “miséria feminina” (conceito do feminismo da diferença italiano), que o feminismo da igualdade acabou por basear a existência feminina a partir das misérias da condição das mulheres e que na verdade é a miséria dos homens, e não nossa justamente, em nada relacionado a nossa diferença sexual, e sim com a miséria civilizatória masculina. Então é colocar a mulher com o mínimo, numa situação de merda, tipo “o que pedimos é muito pouco”… E tem essa coisa do reclamar também, né? A lógica do reclamo na militância, o demandismo ao outro (Estado, homens, etc). O lesbianismo para mim é algo ativo: você se faz responsável pela sua vida, você decide em sua vida fazer uma ação direta e não reclamar ao sistema que ele te dê direitos. Você se dá o direito, você é a sujeita em sua vida. E bom, vou ver outras perguntas que temos…

M.L. : Como é feita essa conscientização e orientação sobre a heterossexualidade compulsória? Pois como foi polemizado recentemente,
“sem coito, não há aborto”, frase que tem um sentido bastante materialista. E eu também pensei aqui se vocês sofrem backlash (reação antifeminista) por conta dessa posição, porque aqui no Brasil o lesbofeminismo está passando por uma perseguição, digamos assim, então pergunto se aí há muito incômodo no movimento [hetero]feminista com esse posicionamento. Por exemplo: se eu falo de recusa da maternidade [compulsória, bom todas seriam nesse sistema então desnecessário esse sobrenome, mas que o movimento materno não entenda nossa posição como hostil às mães, e sim crítico ao sistema dos homens em cima da reprodução humana e sobretudo feminina], negar-se a parir de forma consciente e como decisão e propaganda feminista, é tido como ofensivo, e me parece engraçado pois o feminismo (pelo menos o dos 70) era muito assim, né? Que não nos façamos mães e que há a necessidade de sabotar isso, “greve de ventres” e tudo mais (entendo também que é uma posição mais presente no feminismo branco, igualmente sustentaria a maternidade como uma instituição de exploração laboral reprodutiva para a classe mulheres como classe em suas intersecções).

Osa: Sim. Nós não recebemos perseguição legal, mas sim sofremos assédio em redes e coisas relacionadas com feministas ofendidas porque nós falamos de lésbicas. Há pouco tempo fizemos um post a respeito desse mesmo tema que estamos falando, do desejo lésbico e do desejo de abortar, e nos acusaram de tudo: de racistas, de odiar aos homens… bom, de coisas que são verdades mesmo tipo odiar aos homens… mas com uma resistência muito horrível, e de buscar desmontar nossa estratégia porque no fim nossa estratégia deixa de fora seus homens. Porque nesse sentido as feministas são piores que as mulheres não-feministas, porque às mulheres não-feministas de algum modo não lhes importa tanto, porque sei lá, tipo: ah tá, deixa ele pra lá, não importa, ele não vai ir à oficina e pronto. Mas a mulher feminista acredita que o homem que tem ao seu lado é diferente! Então todo mundo tem que tratá-lo diferentemente, porque ele é “o companheiro”… ai, me incomoda muito…

…e bom, eu creio que se você está propondo uma estratégia que é contra-hegemônica, vai existir muita resistência. Se não existe resistência, é porque está mal feita, é porque é o mesmo de sempre. Assim que receber esse ódio é doloroso — na verdade, cansativo mais que doloroso receber esse ódio, que te joguem merda, pois afinal, somente em Santiago recebemos 200 e-mails diários de mulheres que buscam abortar e isso não diminuiu nem um pouco, as mulheres seguem confiando em nós e somente as heterofeministas se incomodam que nossa estratégia tenha êxito.

M.L.: Sim, porque no fim elas são parte do regime heterossexual. E na Argentina a linha é peronista (partido político de esquerda nacionalista), não é muito autonomista, pelo que sei. Mas elas tem uma coisa de reivindicar-se “lésbicas E feministas pelo direito ao aborto”, ou “pelo direito à informação”, e esta coisa de separar-se do feminismo eu vi muito forte na Argentina, acredito que por conta disso do lesbianismo ficar fora, mas também podemos ocupá-lo (o feminismo) com o lesbofeminismo. Penso que o lesbianismo seja o feminismo sério. Por aqui (Brasil) estavam difamando lésbicas recentemente, buscam excluir, marginalizar e invalidar novamente as lésbicas feministas do movimento, porque há um tema de disputa política, eu penso. E começaram a dizer a falácia de que nós queremos restringir o acesso de mulheres heterossexuais ao aborto. Então fizeram um print screen de uma frase de Ana Prats da Espanha falando isso — uma simples reflexão: que sem coito não há aborto, que o aborto é consequência de ter internalizado o modelo masculino de sexualidade, que tem a ver com a penetração vaginal, ou seja ela estava convidando a fazermos uma reflexão mais além, mais profunda, que é o convite que sempre faz o feminismo radical, aquele que radicaliza a análise e as estratégias para além da superfície e do imediatismo. É o que Carla Lonzi da Itália e Shere Hite (que escreveu o relatório Hite da Sexualidade Feminina) nos Estados Unidos e todas as feministas dos anos 70 expuseram, que a vagina não tem terminações nervosas, senão não poderiam aguentar um bebê nascer num parto natural. As pessoas até mesmo se esquecem do copinho menstrual dentro da vagina porque não há sensibilidade, pois justamente, é um orgão reprodutivo, e então essa construção social do coito é masculina e não natural senão social — é verdade. Então é uma reflexão crítica, apenas, isso não vai impedir as mulheres de buscar um aborto.

Osa: Claro. Eu entendo que a linha da Argentina já não funciona e agora nós temos contato com as socorristas, que são isso: socorristas. Tipo, tampouco se reivindicam como lésbicas — se colocam como feministas, sim, mas sobretudo o trabalho que fazem é acompanhar abortos. E pronto, não necessariamente se cruzam com o feminismo, algumas coletivas são mais feministas que outras — é porque é uma rede de muitas coletivas, são mais de 400, na Argentina sempre é assim, muito. Sobre o que você dizia, eu também estou de acordo com isso do “sem coito não há aborto”, mas como também acompanhamos mulheres que são violadas, então as vezes é dificil pra mim fazer essa colocação tão fechada. O que nós fazemos, e o que incomoda as mulheres, é que as provoquemos dizendo (pra elas): “Você tá num lugar em que poderia não estar”. Mas as mulheres que são agredidas obviamente vêm de outra situação. Então tentamos abordar o assunto de maneira que se entenda que finalmente essa violência heterossexual nos chega a todas, mas pra algumas de uma maneira muito mais explícita que pras outras.

M.L.: Sim. Afinal, como falar de sexo heterossexual consentido no patriarcado, né? A classe masculina consegue o acesso ao corpo feminino ou pela força ou pela ideologia.

Osa: Claro!

M.L.: Então acho que a ideia é pensar que o problema é o homem: não é a mulher que engravida e sim os homens que engravidam as mulheres. E depois disso, são as mulheres que tem que viver todo esse processo em seus corpos e todo esse estresse, todo risco da ilegalidade, toda essa situação complexa pelo contexto dificultoso em que estamos. Eu ia perguntar se você sofreu perseguição política, mas acho que você já falou né? Pois assim, no Brasil há muita perseguição. Houve uma época em que houve perseguição a muitas organizações feministas, com processos (judiciais) e tudo. Por conta disso, algumas mulheres foram presas, inclusive algumas mulheres já foram presas por abortar.. e o engraçado é que o misoprostol (aqui chamado citotec) foi descoberto por mulheres trabalhadoras do povo no Brasil, mas a medicação é controlada aqui e acho que por isso não houve uma linha de aborto, porque não é tão simples de consegui-las (as pílulas). Porque sei que por exemplo, na Argentina um médico pode conseguir uma receita, e as vezes haviam até ações, na praça de las madres (em frente ao congresso nacional argentino), em que se distribuíam receitas médicas pras pessoas, por exemplo, assinadas por médicas ativistas. Então são coisas que aqui são mais difíceis de acontecer. E bom, o que você pensa dessa perseguição do Estado?

O: Aqui não se pode conseguir misoprostol também, nem sequer depois da lei, não se pode comprar misoprostol mesmo que você tenha uma receita. Então há um mercado ilegal muito grande e é muito muito muito difícil comprar misoprostol, e há muita falsificação também de pilulas.

M.L.: Sim, igualmente aqui.

O: É. Acho que Brasil e Chile são os únicos países onde não se pode comprar misoprostol na região, me parece. Nos outros países é mais ou menos caro, dá pra comprar, com receita ou sem receita, mas no Brasil e aqui no Chile não.

Quando eu tava na linha de aborto sim tivemos perseguição legal. Houve, pelo menos enquanto eu estive, duas tentativas de criminalizar a organização pelo delito de associação ilícita e por indução ao delito. E antes de eu entrar, no ano anterior, também haviam movido um processo legal contra a linha. Mas em nenhuma (ativista) foi detida e nem os processos avançaram. E com o tempo, nós fomos interiorizando mais o como bolar a organização pra não cair em nenhuma dessas questões legais.

E também com o tempo foi se tornando menos importante (pro Estado) perseguir organizações que entregam informações sobre aborto. Antes, ou seja, em 2009, 2010, se você somente mostrasse o número da linha de maneira pública já poderia ser perseguida, mas agora nós fazemos oficinas abertas — bom, agora mesmo nada pode ser feito de maneira aberta por causa da pandemia, mas fazemos de maneira muito explícita — e somos explícitas ao dizer q acompanhamos abortos e não houve perseguições legais contra nós (com “Las amigas y en la casa”) — pelo menos desde que existimos e até agora. Acreditamos que não há um interesse do Estado em perseguir esse tipo de coisas agora. Isso pode mudar eventualmente, nunca se sabe, mas nesse momento não é a prioridade perseguir as organizações que entregam informações sobre aborto.

M.L.: Hum, ah, que bom. E bom, como é para você ser lésbica caminhoneira, indígena mapuche, ser médica e fazer esse ativismo… você não tem medo de perder sua profissão? Você é médica de que especialidade, ginecologista…?

Osa: Não, sou médica geral. Assim, não. Ou seja, não sei se já pensei nisso. É que não… não existe tipo, uma figura legal que me persiga… bom, é que se o que se faz é acompanhar abortos que são com pílulas: não se está ao lado da mulher nesse momento, não se coloca as pílulas no corpo da mulher, então o delito de estar provocando um aborto, de fato, não se constitui. E por outro lado, há o sigilo profissional que é um direito e que está incluso na lei, então eu posso simplesmente não entregar informação por causa do sigilo profissional que tenho com a mulher. E além disso eu posso dizer que eu a ajudei, ou seja, se uma mulher me liga porque está sangrando, minha obrigação como médica é ajudá-la, não denunciá-la. Então eu também tenho essa possibilidade de poder dizer que eu fiz o que me corresponde segundo a boa prática médica que é ajudar, não denunciar. De qualquer forma com o tempo você vai aprendendo como fazer para evitar alguns conflitos que você poderia ter, e acho que é mais difícil ser lésbica caminhoneira no movimento feminista nesse momento.

Nesse momento, como o feminismo liberal está tomando todos os espaços, então sinto que pra além do acompanhamento do aborto (que já está envolto nesse conflito que te relatei, a respeito de nosso ponto de vista lésbico sobre o acompanhamento), a insistência em me nomear lésbica e não querer me nomear de outro modo, não querer usar a letra “e” (linguagem neutra) e esse tipo de coisas são mais difíceis (que ser médica aborteira), no fim das contas. É nisso que tenho pensado nos últimos tempos: sobre as coisas que foram difíceis de manter no último ano, por exemplo, em que a violência contra as mulheres lésbicas, por parte de feministas queer e de toda a ala liberal tem sido muito grande, muito grave.

M.L.: Sim, está muito grande. Eu ia perguntar isso, se você sente que o movimento queer está afetando a luta pelo aborto, o ativismo pelo aborto, porquê o queer é um ataque ao direito das mulheres baseados no sexo, querem apagar o próprio conceito de mulher e nossa especificidade tão básica como o corpo diferenciado, então o que você pensa sobre isso?

Osa: É… eu acho que sim, que em geral os queer são grupos que não tem trabalho territorial, que não fazem um trabalho de base, que não tem… tipo… não fazem trabalho comunitário. Então desconhecem a realidade. Grande parte do ataque que nós recebemos, com “Con Las amigas y en la casa”, a propósito da nossa visão lesbofeminista, vem de grupos queer. Que se nomeiam “dissidentes”(sexuais) e todos esses nomes que se dão, dizendo que nós (os) excluímos porque — esse é outro ponto: nós falamos de mulheres.

M.L.: Sim, da biologia, né? O aborto é sobre a biologia feminina.

Osa: É, nós falamos de mulheres, falamos de útero, menstruação, essas coisas proibidas que não se podem dizer. Então acredito que o fazem é fazer a gente perder tempo, um monte de tempo. Porque não acredito que as mulheres vão querer deixar de abortar ou deixar de aproximarem-se de grupos lesbofeministas para abortar só porque existem esses grupos queer, não. As mulheres não vão buscar aborto com esses grupos porque sabem que aí não vão encontrar respostas. Sabem que as que vão dar a cara a tapa por elas somos nós, as lésbicas. Mas sim nos fazem perder um monte de tempo, nos cansam, nos fazem ter medo as vezes de dizer algumas coisas, nesse sentido eu acho que nos afetam. Não no trabalho concreto com as mulheres, se não em como você se sente em certos espaços, por exemplo, que você já não pode ir poque sabe que vai ser só uma discussão inútil aí… nessas coisas que eu sinto que afetam.

M.L.: Claro. Essa é uma perspectiva otimista, importante. Pensar que bom, temos que seguir nosso trabalho, e vão odiar a gente mas se teu feminismo é odiado é porque você tá num bom caminho.

Osa: Com certeza.

M.L.: Pode comentar sobre o assunto da Covid 19, a pandemia? Se você acha que isso vem afetando a coletividade de mulheres e a demanda por aborto, se isso complicou um pouco a vida das mulheres nesse sentido?

Osa: Sim totalmente, como sempre as mais afetadas são as mulheres, porque são as primeiras que renunciam a si mesmas pelo cuidado de outras pessoas, as primeiras que deixam de cuidar da própria saúde para cuidar ao outro, são as mulheres. E além disso o confinamento gerou o que se esperava, que é um aumento na violência sexual, porque afinal as mulheres estão obrigadas a conviver com seus agressores muito mais horas do dia, todos os dias, e a ser violada mais frequentemente do que é violada quando o marido tem que sair pra trabalhar. Então isso provocou… nós sim notamos um aumento na quantidade de mulheres que escrevem à rede: desde fins de março e abril de 2020 houve um aumento impactante, como de 50%, dos e-mails que recebemos. E também há uma limitação ao acesso a anticonceptivos, ou seja, as mulheres que estavam usando anticonceptivos não podiam buscá-los porque não podiam sair ou porque pensavam que não iam entregar (os anticonceptivos pra elas), ou porque em alguns lugares realmente não estavam entregando, porque tampouco foi prioridade para o governo garantir a atenção integral à saúde sexual das mulheres, então isso também afetou. Mas pra mim, na verdade o que mais comovia era o quão evidentemente a violência sexual aumentou. Porque se você tranca um homem a única coisa que ele faz é agredir. Não sabem lidar com o estresse, não ajudam, enfim…

M.L.: E utilizam o sexo… a mulher acaba utilizando o sexo para conter a situação, né?

Osa: Claro. Ou seja a mulher no fim das contas termina transando para acalmá-lo. Hoje atendi uma mulher de 70 anos que está nessa situação: o cara fica violento, dá na cara dela, e ela pensa “tá, beleza, tenho que ceder meu corpo para que ele se tranquilize e não me bata”, assim, 70 anos. Imagino quando tinham 30.

M.L.: Sim, imagino como deve ser difícil o lado psicológico de trabalhar com essa questão (como aborteira)…

Osa: Sim.

M.L.: Bom, acho que essas eram as nossas perguntas. Você não segue com o grupo de Torta Golosa (grupo de reggaeton feminista butch que mantém com sua amiga Andy outra ativista lésbica)?

Osa: Sim! o que rola é que a Andy ta vivendo fora de Santiago, minha companheira. E além disso como também nos somos carimbadas como “transfóbicas” sempre, o trabalho tá mais difícil, por causa das acusações constantes de transfobia.

M.L.: Ah, a música também? A música de vocês?

Osa: Sim, porque… bom, porque nós dizemos lésbicas! (Risos)

M.L.: …e falam numa música: “não somos queer, estamos em Abya Yala” (risos) tá muito boa essa! Afinal, “queer” é um conceito muito colonial.

Osa: Sim, dizemos isso e também dizemos que sexo lésbico é anticonceptivo e agora se supõe que o sexo lésbico também inclui o…

M.L.: Sim, já sabemos…[o pênis]

Osa: Então como dizemos que o sexo lésbico é anticonceptivo também somos “transfóbicas” por isso.

M.L.: E bom, temos que seguir mais do que nunca com o ativismo feminista de verdade, lésbico e radical.

Osa: Claro.

M.L.: Muito obrigada por falar conosco e espero que esse possa ser um material muito importante para o território aqui. Para que façamos uma reflexão consciente sobre todo esse assunto do aborto e que seja possível a todas avançar nessa luta mas de uma maneira revolucionária de fato, né?

Osa: Sim, massa! Valeu, obrigada a você.

Entrevista realizada por Jan

Transcrição e tradução: mugra

Perguntas elaboradas juntamente com Nayane da Sangra Coletiva.

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Memória Lésbica

O legado sapatão não será apagado: conteúdo lesbofeminista que busca retomar as raízes rebeldes do movimento de lésbicas.